Aprendi que na vida política, tal como naquilo que fazemos todos os dias, compensa ser honesto, dedicado e ter sustentabilidade nas nossas ambições e ideias. São esses valores, entre outros, que poderão marcar uma diferença quando nos temos de submeter a um qualquer tipo de escrutínio. Quem está do outro lado, quem nos ouve e pode decidir, merece, acima de tudo, esta transparência de comportamento, sob pena de nos castigar, isto é, não confiar no que dizemos ou até levar-nos ao ridículo.
Lembrei-me deste estilo político quando tive conhecimento da apresentação do "Apelo à convergência de Esquerda nas eleições de Lisboa", que segundo tive a oportunidade de ler recentemente, são um conjunto de pessoas que subscrevem uma convergência política na capital portuguesa.
Até aqui nada de novo. Aliás, a crítica que a seguir farei tanto poderia ser válida para a Esquerda ou para a Direita. Embora ainda seja daquelas que acredita que há seguramente muita coisa que as distingue, para o caso, não importa esta dicotomia ideológica. Interessa o conteúdo ou, se preferirmos, a falta dele.
Vejamos então os que os subscritores que há pouco mencionei, perto de duas centenas à data da apresentação, ambicionam. Será mais e melhor ambiente ou educação? Será o saneamento financeiro da autarquia? Será a promoção de uma cidade viva e atractiva? Não. Pelo menos, para já, e a avaliar pelas primeiras declarações prestadas, embora ainda possamos repescar a “intenção de ter um executivo mais forte e um programa mais rico”, entre outras ideias que ficaram para segundo plano, sendo seguramente aquelas que mais interessariam para o debate político, o que os move de facto é, e passo a transcrever, é a vontade férrea de “evitar que a Direita lidere o Executivo da capital” porque “seria uma vergonha abrirem-se as portas da Câmara de Lisboa à Direita”.
Não interessa, por isso, discutir outras coisas. O movimento é “uma espécie de barriga de aluguer para todos os que queriam a coligação” e seu ponto de partida restringe-se ao afugentar do bicho papão, encarnado, segundo dizem, por Pedro Santana Lopes.
Para além de ser triste, episódios como este, não trazem nada de novo à política. Apenas se juntam aos tantos exemplos que grassam por aí, numa cultura de desnorte político que tem afastado pessoas em vez de as juntar em torno de qualquer coisa com sentido.
Que exemplo dão um conjunto de pessoas respeitáveis, não duvido, mas que não sabem ou não querem defender as suas ideias, preferindo o insulto ideológico ao invés da afirmação política dos seus valores? Que cultura democrática é essa que não constrói, apenas destrói os outros? Que coerência é essa quando até na apresentação desta petição, os próprios subscritores, lembrando Abril numa sala cheia de cravos, não se inibem de criticar as forças políticas que tentam cativar?
O que pensar destes subscritores quando a ex-secretária de Estado do Governo PS e defensora deste movimento, Ana Benavente, afirma sem rodeios que o “o PS tem vindo a governar em maioria absoluta, de forma arrogante” ou quando critica indirectamente António Costa por ter feito uma coligação pós eleitoral, ou seja, uma “pesca à linha, onde depois se vai buscar um eleito por outro partido”, quando na plateia estava sentado o visado José Sá Fernandes, ex-candidato pelo Bloco de Esquerda?
Publicado no Jornal do Algarve, edição de 30 de Abril de 2009
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