quarta-feira, 25 de março de 2009

AUTARCAS LOCAIS: O QUE TÊM PARA NOS DIZER?

A poucos meses das eleições autárquicas, a multidão agita-se. Sobram os eventos, muitos acima das reais possibilidades financeiras de cada autarquia; algumas das oposições lembram-se de trabalhar e da sua missão; aumentam as campanhas dos que estão no poder e daqueles que o querem conquistar; transbordam ideias e projectos e respectivas discussões. É uma algazarra. Foi e será sempre assim. Todavia, e acima de tudo, o que todos queremos saber, é algo muito simples: o que é que (honestamente) todos têm para nos dizer?
Como sabem, não defendo a crítica pela crítica quando falamos de política e políticos. Não são todos iguais e por isso não cabem todos na mesma malga da incompetência e mentira. É como em tudo na vida: há os bons e os maus.
Acontece é que fruto da minha passagem pela política activa (não remunerada) durante um período de quinze anos, essa experiência, principalmente agora que estou num momento de inactividade política, ajudou-me a reforçar a capacidade de poder analisar com alguma frieza e distanciamento a produção de conteúdos políticos.
Infelizmente, muitos dos políticos de hoje aborrecem e não têm nada de novo para nos dizer. Outros querem mas não o podem fazer e há ainda as excepções relevantes daqueles que nos dizem e fazem coisas fantásticas pelas nossas terras. É assim que eu os divido.
Vamos aos primeiros, os enfadonhos, aqueles que falam um politiquês cheio de palavras difíceis, pouco acessíveis à maioria das pessoas, abusando de termos técnicos que não esclarecem, apenas confundem. São estes que apesar de vencerem eleições continuam a cavar um fosso enorme com as pessoas, não contribuindo em nada para a aproximação das pessoas à política.
Há os outros: aqueles que querem dizer algo de novo mas não podem. E isto acontece devido à falência do seu projecto político (o que supõe uma mudança a breve prazo) ou porque não têm capacidade para enfrentar os novos desafios que se lhes colocam.
Finalmente, há aqueles que realmente acompanham as transformações diárias dos seus municípios e tomam decisões não só para hoje, mas também para amanhã. São os melhores, entenda-se.
Nas próximas eleições autárquicas, há milhares de portugueses que estarão atentos. Mesmo que muitos afirmem que estão divorciados da política ou que não gostem dela pura e simplesmente, no seu íntimo estarão à espera do que os seus políticos mais próximos (os da sua terra) têm para lhes dizer.
Eu, tal como todos, estarei à espera do mesmo. E atrevo-me até a sugerir algo. Nesse acto eleitoral concreto, atrevam-se a regressar às campanhas antigas. Usem e abusem das novas valências que o marketing político nos oferece, adaptando-as a cada público em concreto, mas devolvam-nos aqueles comícios à maneira antiga onde se explicavam as coisas detalhadamente e onde se conheciam as pessoas de perto. Façam-nos sentar para discutir ideias. Apresentem-nos soluções e projectos para o futuro. Sejam audazes na forma como nos abordam, sem quilos de canetas e porta-chaves, mas com imaginação, valores e ideias.

Publicado no Jornal Região Sul, edição de 25 de Março de 2009. Link: http://www.regiao-sul.pt/noticia.php?refnoticia=93083

segunda-feira, 16 de março de 2009

ESSE ALGARVE NÃO É PARA TODOS

Há por aí um certo Algarve que não é para todos. Um Algarve que aparece muito nas televisões, onde se apregoa um glamour e felicidade, como que se tratasse de um espaço elitista e pouco extensivo a todos.
O Algarve não é só isto. É mais do que isso. E restringi-lo parece-me estupidamente redutor, ao invés do que algumas cabeças pensadoras entendem como uma certa cultura de marketing que parece cobrir estas acções mediáticas.
Desde sempre que assumi que podemos ser muito mais do que somos. E esta aparente declaração de fraqueza não é, nem pode ser, um baixar dos braços. É um desafio que se renova todos os dias e que vai ao encontro das nossas legítimas ambições.
O meu Algarve não é apenas o local das festas de glamour, nem apenas o sítio onde o sol e praia se uniram há muito tempo. Não que tenha nada contra estas coisas, muito pelo contrário. Mas restringir uma região apenas a algumas ofertas, soa-me a confinar o próprio convite e interesse para que visitem o Algarve.
Assim sendo, é necessário esclarecer que o Algarve é um misto de emoções, e isto é importante para o marketing experimental porque cada vez mais as pessoas compram experiências; é um conjunto de locais que se complementam entre si através das suas diferenças, o que nos faz sentir que litoral e interior pode conviver garantindo uma oferta imbatível; é a soma das marcas de um passado longínquo que faz a nossa história e que, por vezes, merecia outra consideração e aposta da nossa parte; é a relação que mantemos com o mar, fonte de sustento de há muitos anos, mas também campo de inúmeras descobertas científicas e de tantas oportunidades desportivas; é a capacidade que temos de oferecer as festas e o tal glamour que vale pela aptidão de quem o produz; é uma região cada vez mais virada para os grandes eventos o que nos dá um sentido de qualidade e afirmação inegáveis; é a diversidade gastronómica que temos e que vai ao encontro de um espírito mediterrâneo que não só olha pela nossa saúde, como nos diferencia em relação aos demais; é um conjunto de serviços que garantem conforto e oferecem qualidade; é um local de saber receber, cultura alicerçada em mais de quarenta anos de portas abertas.
Isto é Algarve. E, dentro desta soma, faz-se uma região. Claro que com muitos problemas, muitos dos quais que teimam em prolongar-se no tempo, como que se tratasse de uma crise de identidade. Todavia, mesmo assim, neste cruzamento de vontades, de quem é algarvio, seja por nascimento ou por adopção, há um sentimento de que não somos só glamour, sol e praia. Somos muito mais. E isso é preciso afirmá-lo sem pudores.

Publicado no Jornal do Algarve, edição de 12 de Março de 2009, página n.º 14

quarta-feira, 4 de março de 2009

SENSIBILIDADE E BOM SENSO

Permitam-me um esclarecimento prévio. Nada tenho contra a iniciativa empresarial, nem sou particularmente defensor da luta de classes enquanto guerra aberta entre quem tem ou não o dinheiro e o poder. Por isso, no outro dia, para ficar chocado ao ouvir uma conversa entre empresários, foram necessárias considerações bastante insensatas.
A conversa começou pelas dificuldades económicas que todos sentimos. E são várias, como todos conhecemos de uma forma particularmente exacta. Mas, em vez de ouvir alguma compreensão, algum conforto e esperança, aquilo que escutei foi um coro de ideias pouco sensíveis e fatalmente egoístas.
O despedimento fácil, o alheamento total sofrimento dos outros, a facilidade em terminar com uma qualquer empresa ou investimento, a ausência de horizontes. Enfim, um perfeito rol de considerações que me deixaram tão perplexo quanto revoltado.
Creio que esta crise, tal como a conhecemos, toldou as mentalidades e trouxe ao de cima uma indiferença que marca estes tempos e que, essa sim, não augura nada de bom.
Sei que perante esta crise enorme, não devemos esconder a cabeça na areia, fingindo que nada se passa. Mas, mesmo assim, devemos nós aceitar o discurso de quem perante a falta de oportunidades parece não querer ripostar à crise? Devemos nós aceitar o facto de muitos estarem a aproveitar a crise para encerrar as empresas, sem razões aparentes, e, consequentemente, fazendo-o de uma forma fraudulenta, embarcando na crise e responsabilizando-a por erros de gestão que eles próprios cometeram?
Será que podemos aceitar levianamente que alguns empresários confundam as medidas de austeridade, que julgo necessárias para combater a crise, com políticas que primam pelo aumento zero e despedimento fácil, quando sabemos que muitos não dispensam o seu aumento de salário, independentemente da situação económica em que vivemos? O que sentiriam essas pessoas se vivessem amarguradas pelas dificuldades económicas que muitos sentem? Será justo ouvir de que apenas eles (os empresários) é que sabem o que se passa no mundo e que todos os outros são uns perfeitos ignorantes?
Sei que há empresários e gestores bons e maus. E, seguramente, não os quero confundir. Todavia, é preciso esclarecer que estas pessoas, nomeadamente aqueles que não têm escrúpulos, têm imprimido um pessimismo à crise que vai além do que é razoável. E pior. Parece que a aproveitam a seu belo prazer.
Assim sendo, quero separar o trigo do joio, isto é, manifestar a minha compreensão pelo drama que todos aqueles que querem jogar limpo sentem perante a crise. Para todos essas vai a minha admiração e desejo de que tudo isto passe rápido. Como já o escrevi anteriormente, acho que o Estado deve estar ao pé dessas pessoas, ajudando-as a lutar, dando-lhes oportunidades para que se salvem milhares de micro empresas e outras tantas de maior dimensão. É uma luta de todos e que a todos diz respeito.
Quanto aos outros, ou seja, aqueles que nada têm feito, aqueles que têm demonstrado pouca sensibilidade e nenhum senso, aqueles que se têm limitado a olhar para os mais castigados pela crise com um aparente desprezo, aqueles que têm agido de uma forma ilícita, seja no sentido legal ou moral, a todos esses, dedico-lhes o meu maior desprezo. Não merecem mais do que isso.

Publicado no Jornal Região Sul, edição de 4 de Março de 2008. Link: http://www.regiao-sul.pt/noticia.php?refnoticia=92461

terça-feira, 3 de março de 2009

A QUALIDADE DOS SERVIÇOS PRESTADOS

Hoje em dia, as empresas espalhadas por esse mundo fora, procuram fidelizar clientes. E esta aposta, que desde há algum tempo inaugurou uma nova era, colocando o cliente no centro do negócio, precisa de ser bem estudada e melhor executada.
Não basta portanto, oferecer bons serviços no papel, publicitar um conjunto de boas acções, criar um dinamismo quanto ao diálogo com o seu cliente, se as empresas, no seus imensos momentos de verdade falharem rotundamente.
Avanço pois, enquanto exemplo do que escrevo, para um caso pessoal, sinónimo desta falha que, infelizmente, é comum a tantas pessoas.
Tenho um cartão de cliente de uma certa marca de automóvel. Esse cartão dá acesso a um conjunto de descontos, segundo o que está anunciado, permitindo também uma qualidade de serviço acima da média, incentivando a trocar euros por quilómetros.
Na semana passada, necessitei de um serviço imediato da oficina. Ao deslocar-me ao local fui atendido com correcção, encontrei a peça que necessitava, tendo sido instalada com rapidez (5 minutos). Todavia, no acto do pagamento deste serviço, fiquei estupefacto com o que me foi cobrado na mão-de-obra.
Interrogo-me como é possível uma falha tão grande no instante em que empresa se confrontou com as minhas necessidades e expectativas? E no seguimento desta questão, para quê perder então tempo a responder a questionários, a atender telefonemas, a deslocar-me religiosamente à oficina da marca para todas as revisões? O que ganho com isso? Porque é que fazem de mim um cliente especial se depois isso não se traduz na prática?
Desculpem-me a ingenuidade aparente destas perguntas, mas a verdade é que elas devem ser colocadas enquanto cliente que sou, sabendo perfeitamente que não serei o único a fazê-las.
Esta empresa, contra a qual nada tenho, nem interessa por isso aqui identificar, deve-se debruçar sobre estas questões e tentar rever a sua política de vantagens aos seus clientes, sob pena destes ficarem pessimamente impressionados.
Valeu a intervenção de alguém, que em nome da empresa em causa, me atendeu com uma atitude louvável, aceitando o meu reparo e prometendo alguma intervenção neste assunto. Aguardo pois.
Num sentido mais lato, ampliando este tema para as empresas de hoje, o facto destas estarem num mercado feroz, que é volátil, que muda todos os dias, que se rege muitas vezes pela política do mais barato e do pior, porque é isso que é mais fácil vender, não lhes deve obstruir os seus horizontes.
Quem quiser ganhar vantagens competitivas e alimentar com sabedoria esta presença no mercado, aliando a qualidade do serviço prestado com a fidelização cuidada dos seus clientes, tem de saber interpretar os pequenos gestos e oferecer efectivamente um serviço acima da média para todos, especialmente para aqueles a quem persuade a terem um relacionamento mais estreito, preferindo o lucro de um cliente que volta várias vezes ao invés de ganhar tudo saloiamente de uma vez só, perdendo, deste modo, clientes que nunca mais voltarão.

Publicado no Jornal do Algarve, edição de 26 de Fevereiro
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