A poucos meses das eleições autárquicas, a multidão agita-se. Sobram os eventos, muitos acima das reais possibilidades financeiras de cada autarquia; algumas das oposições lembram-se de trabalhar e da sua missão; aumentam as campanhas dos que estão no poder e daqueles que o querem conquistar; transbordam ideias e projectos e respectivas discussões. É uma algazarra. Foi e será sempre assim. Todavia, e acima de tudo, o que todos queremos saber, é algo muito simples: o que é que (honestamente) todos têm para nos dizer?
Como sabem, não defendo a crítica pela crítica quando falamos de política e políticos. Não são todos iguais e por isso não cabem todos na mesma malga da incompetência e mentira. É como em tudo na vida: há os bons e os maus.
Acontece é que fruto da minha passagem pela política activa (não remunerada) durante um período de quinze anos, essa experiência, principalmente agora que estou num momento de inactividade política, ajudou-me a reforçar a capacidade de poder analisar com alguma frieza e distanciamento a produção de conteúdos políticos.
Infelizmente, muitos dos políticos de hoje aborrecem e não têm nada de novo para nos dizer. Outros querem mas não o podem fazer e há ainda as excepções relevantes daqueles que nos dizem e fazem coisas fantásticas pelas nossas terras. É assim que eu os divido.
Vamos aos primeiros, os enfadonhos, aqueles que falam um politiquês cheio de palavras difíceis, pouco acessíveis à maioria das pessoas, abusando de termos técnicos que não esclarecem, apenas confundem. São estes que apesar de vencerem eleições continuam a cavar um fosso enorme com as pessoas, não contribuindo em nada para a aproximação das pessoas à política.
Há os outros: aqueles que querem dizer algo de novo mas não podem. E isto acontece devido à falência do seu projecto político (o que supõe uma mudança a breve prazo) ou porque não têm capacidade para enfrentar os novos desafios que se lhes colocam.
Finalmente, há aqueles que realmente acompanham as transformações diárias dos seus municípios e tomam decisões não só para hoje, mas também para amanhã. São os melhores, entenda-se.
Nas próximas eleições autárquicas, há milhares de portugueses que estarão atentos. Mesmo que muitos afirmem que estão divorciados da política ou que não gostem dela pura e simplesmente, no seu íntimo estarão à espera do que os seus políticos mais próximos (os da sua terra) têm para lhes dizer.
Eu, tal como todos, estarei à espera do mesmo. E atrevo-me até a sugerir algo. Nesse acto eleitoral concreto, atrevam-se a regressar às campanhas antigas. Usem e abusem das novas valências que o marketing político nos oferece, adaptando-as a cada público em concreto, mas devolvam-nos aqueles comícios à maneira antiga onde se explicavam as coisas detalhadamente e onde se conheciam as pessoas de perto. Façam-nos sentar para discutir ideias. Apresentem-nos soluções e projectos para o futuro. Sejam audazes na forma como nos abordam, sem quilos de canetas e porta-chaves, mas com imaginação, valores e ideias.
Publicado no Jornal Região Sul, edição de 25 de Março de 2009. Link: http://www.regiao-sul.pt/noticia.php?refnoticia=93083
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