Permitam-me um esclarecimento prévio. Nada tenho contra a iniciativa empresarial, nem sou particularmente defensor da luta de classes enquanto guerra aberta entre quem tem ou não o dinheiro e o poder. Por isso, no outro dia, para ficar chocado ao ouvir uma conversa entre empresários, foram necessárias considerações bastante insensatas.
A conversa começou pelas dificuldades económicas que todos sentimos. E são várias, como todos conhecemos de uma forma particularmente exacta. Mas, em vez de ouvir alguma compreensão, algum conforto e esperança, aquilo que escutei foi um coro de ideias pouco sensíveis e fatalmente egoístas.
O despedimento fácil, o alheamento total sofrimento dos outros, a facilidade em terminar com uma qualquer empresa ou investimento, a ausência de horizontes. Enfim, um perfeito rol de considerações que me deixaram tão perplexo quanto revoltado.
Creio que esta crise, tal como a conhecemos, toldou as mentalidades e trouxe ao de cima uma indiferença que marca estes tempos e que, essa sim, não augura nada de bom.
Sei que perante esta crise enorme, não devemos esconder a cabeça na areia, fingindo que nada se passa. Mas, mesmo assim, devemos nós aceitar o discurso de quem perante a falta de oportunidades parece não querer ripostar à crise? Devemos nós aceitar o facto de muitos estarem a aproveitar a crise para encerrar as empresas, sem razões aparentes, e, consequentemente, fazendo-o de uma forma fraudulenta, embarcando na crise e responsabilizando-a por erros de gestão que eles próprios cometeram?
Será que podemos aceitar levianamente que alguns empresários confundam as medidas de austeridade, que julgo necessárias para combater a crise, com políticas que primam pelo aumento zero e despedimento fácil, quando sabemos que muitos não dispensam o seu aumento de salário, independentemente da situação económica em que vivemos? O que sentiriam essas pessoas se vivessem amarguradas pelas dificuldades económicas que muitos sentem? Será justo ouvir de que apenas eles (os empresários) é que sabem o que se passa no mundo e que todos os outros são uns perfeitos ignorantes?
Sei que há empresários e gestores bons e maus. E, seguramente, não os quero confundir. Todavia, é preciso esclarecer que estas pessoas, nomeadamente aqueles que não têm escrúpulos, têm imprimido um pessimismo à crise que vai além do que é razoável. E pior. Parece que a aproveitam a seu belo prazer.
Assim sendo, quero separar o trigo do joio, isto é, manifestar a minha compreensão pelo drama que todos aqueles que querem jogar limpo sentem perante a crise. Para todos essas vai a minha admiração e desejo de que tudo isto passe rápido. Como já o escrevi anteriormente, acho que o Estado deve estar ao pé dessas pessoas, ajudando-as a lutar, dando-lhes oportunidades para que se salvem milhares de micro empresas e outras tantas de maior dimensão. É uma luta de todos e que a todos diz respeito.
Quanto aos outros, ou seja, aqueles que nada têm feito, aqueles que têm demonstrado pouca sensibilidade e nenhum senso, aqueles que se têm limitado a olhar para os mais castigados pela crise com um aparente desprezo, aqueles que têm agido de uma forma ilícita, seja no sentido legal ou moral, a todos esses, dedico-lhes o meu maior desprezo. Não merecem mais do que isso.
Publicado no Jornal Região Sul, edição de 4 de Março de 2008. Link: http://www.regiao-sul.pt/noticia.php?refnoticia=92461
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