Já ouvimos muitas vezes a expressão de que devemos fazer o bem sem olhar a quem. E, de uma forma ou outra, por mais solidários que sejamos, uma grande maioria de nós tenta dar o seu melhor nesse sentido.
São sentimentos que apesar de terem resguardo na religião, ultrapassam em muito essa filosofia, alojando-se também no campo de uma certa sensibilidade humana que nos deveria envolver.
Escrevo estas linhas no abstracto, sem mencionar nomes propositadamente. Esta crónica é como uma carta que vai além das suas próprias palavras e que tenta trazer algum conforto e justiça a tantas pessoas que, hoje em dia, lutam incessantemente para que os seus semelhantes tenham conforto, nas suas mais diversas acepções.
Fala-se muito de crise. Fala-se hoje, mais do que nunca, da ruína financeira em que grassam tantos homens e mulheres, mas esquecem-se os problemas consequentes, sejam directos ou indirectos de tamanha desgraça. E muitos deles resultam em condições de vida miseráveis.
Quero, por isso, saudar de uma forma afectiva todos aqueles que hoje se ocupam da acção social, seja por via profissional ou por mero voluntariado.
Sei que todos professamos a tal frase que escolhi para início deste texto. Mas sejamos honestos. Nem todos conseguem, querem ou têm tempo para colocar em prática tais desejos. Ficamos assim dependentes de autênticos anjos com rostos humanos que fazem da solidariedade mais do que meras palavras. E esse trabalho deve ser enaltecido.
Nestes tempos em que apelamos a tudo e a todos, em que nos movemos pela fé, quem a tem obviamente, em que nos sentimos impotentes para ajudar quem realmente precisa, em que sabemos que o auxílio tem de ir muito além das pessoas que sabemos que têm necessidades (hoje muitas pessoas sofrem em silêncio, ora porque têm vergonha de pedir ajuda ou porque a própria sociedade ainda é madrasta para quem está nessa condição), torna-se importante estimular um trabalho de campo que faça a diferença para quem nunca teve qualquer conforto na vida, ou que o faça regressar às pessoas que antes o tiveram, mas que por agora deixaram de o ter.
Seja a Maria, o Paulo, a Catarina, o Eduardo, seja que pessoa for. Sejam as Santas Casas, a própria Igreja, as autarquias, esses baluartes que nos acodem em primeira instância, sejam outras organizações governamentais ou não, que estão no terreno e que têm a consciência perfeita da gravidade do que se passa, todos merecem a nossa estima e o empenho para que, pelo menos, tenham condições para efectuar essa missão.
Num tempo em que se colocam em causa teorias económicas e modelos de sociedade, apelemos a um certo personalismo cristão, onde possa emergir um regresso efectivo aos valores de ajuda ao próximo. E, nesta matéria, tenhamos mais ou menos tempo, podemos sempre ajudar estes anjos com rostos humanos, e, por prolongamento, quem hoje tanto necessita de amparo.
Publicado no Jornal do Algarve, edição de 5 de Fevereiro de 2009, página 19
1 comentário:
Estas palavras são sentidas e comungo das mesmas. Faz falta ajudar quem ajuda os outros. Obrigado.
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