segunda-feira, 8 de setembro de 2008

UM ALGARVE MAIS

Quero dedicar as minhas primeiras palavras para o início de um relacionamento entre o Vialgarve e a revista “Algarve Mais”, parceria que muito nos regozija, por reconhecermos o excelente trabalho que aqui tem sido feito. Pessoalmente, e porque será a primeira vez que aqui escreverei, devo acrescentar que me sinto feliz por finalmente nos encontrarmos.
Vamos ao assunto que quero aprofundar. Casar o título deste texto com o nome da própria revista, não é inocente. É ambicioso. Mas, acima de tudo, é algo que pretendo coerente com o que tenho vindo a escrever há anos e publicado frequentemente.
Eu gosto do Algarve. Porque nasci, porque cá resido, porque o sinto. E este sentimento de posse, não sendo utópico nem bacoco, é a expressão de quem sente que o Algarve pode e deve ser muito mais. Para isso, é necessário reconhecer o que e quem somos.
Somos a região do turismo por excelência. Somos a encarnação dos sonhos de muitos que nos visitam e expressão de alguns dos seus melhores momentos. Somos também a região mais falada dois meses por ano e dedicada ao ostracismo nos restantes. Somos a região dos 425 mil habitantes que quadruplica de repente, o que não sendo desprezível porque vai ao encontro do que fazemos melhor, deveria merecer uma outra visão, leia-se também empenhamento, do governo central.
Sobre nós, somos, enquanto cidadãos algarvios, muito pouco participativos. Usualmente dividimo-nos mais do que nos unimos. Ainda assim, dentro disto tudo, temos carácter e lutamos todos os dias por algum reconhecimento, embora nos tais dez meses do ano, nas profundezas de quem está longe do Terreiro do Paço.
Somos o que somos. E nessa ilusão de sonho, a que muitos chamarão loucura, mas que designo como capacidade, defendo um Algarve superior. Sem azedume nem altivez. Dentro de tudo o que tenho lido e até vivido, em sucessivas experiências que me têm feito amadurecer, gostava que esse Algarve fosse diferente em muitas coisas.
Começando pelo próprio turismo. Mais e melhor, com uma oferta diversificada mas concentrada nas capacidades que muitos já demonstram, rumo a um relacionamento com os clientes que marque a diferença e que sejam consequências da formação, formação e mais formação. Para isso, que venha ao de cima algumas ideias modernas, que aproveitem o binómio sol e praia, mas que possam ir muito mais além, no sentido da diferenciação entre destinos turísticos.
Passando pela restante economia. Mais diversificada, melhor aproveitada, onde convivam, sem problemas, os serviços que nos caracterizam e nos podem diferenciar, com uma agricultura que desenvolva o que temos de melhor, com uma relação com o mar dentro de um novo enquadramento e uma pequena/média indústria capaz de produzir. Um Algarve onde não se vivam apenas três meses, mas onde sejam dados contributos para o empreendedorismo, onde sejam aproveitadas as ideias que por aqui brotam mas que têm por destino o caixote do lixo.
Indo até ao ensino que por aqui se ministra. Bem sei que têm de respeitar as orientações que são emanadas a nível nacional, mas para quando o aprofundar de alguns passos que orgulhosamente tenho tido conhecimento, entre as empresas e as escolas/universidades?
Atentando na própria sociedade que temos. Basta de nos “regozijarmos” com as dezasseis “quintas” que temos. São bonitas, são pertença e o orgulho dos seus habitantes, mas há um Algarve para promover e uma união em torno de certas reivindicações, que só no plural fazem sentido.
Passando pelo respeito pela nossa história e cultura, muito mais ricas do que supomos e com argumentos suficientes para desmistificar aquela ideia absurda de que somos apenas praia e sol. Alguém se lembra do que fomos? Que é feito das nossas tradições?
E olhando para o futuro, com o respeito pelo ambiente, aproveitando o que temos na nossa região para tornar o Algarve num local com sentimento verde, embora não fundamentalista, mas capaz de gerar atitudes fortes e duradouras concentradas num destino com ofertas e mentalidade diferentes.
Dentro disto, procurar um Algarve melhor ordenado, que conviva com os erros que cometemos e que estes sirvam para nos indicar que o caminho não é por aí, mas no sentido contrário.
Afirmando um Algarve de acontecimentos para todos. Não só para as elites, não só durante o verão, mas capaz de gerar eventos multi culturais, que cumpram a vocação de agradar às várias franjas da sociedade em que vivemos.
Torna-se fundamental aproximar os dois algarves que temos dentro de nós. Um litoral cheio de oportunidades, outro interior, além-mar e prostrado pela falta de desenvolvimento, mas que não pode morrer por asfixia. E, neste capítulo, honra seja feita aos que lá vivem e que lutam todos os dias para que esse Algarve rico de história e tradição sobreviva. Porém, mais do que reconhecimento, o que essas pessoas necessitam é de intervenções concretas e eficazes.
Muito mais haveria para abordar. Todavia, essas ideias são como um exercício de reflexão que todos devemos fazer, com espírito de compromisso.
Fazem falta muita ambição e orgulho próprio. Faz falta uma certa vontade de ser algarvio, desprendendo-se das amarras dos coitados que muitas vezes nos querem tornar, ou pior, papel para o qual, reconheçamos, também nos colocamos a jeito.
As regiões distinguem-se e distinguir-se-ão cada vez mais pela inovação e pela qualidade dos produtos que conseguirem oferecer, mas também pela complementaridade humana que cada uma delas conseguir apresentar e que marcará a diferença.
É por isso que quero um Algarve mais. Definitivamente, mais humano e com maior profissionalismo e inovação, mais moderno, com mais entrega, mais união, ambição e sentido de região e mais resultados que suportem as nossas pretensões.

Publicada na revista Algarve Mais, edição de Setembro de 2008, página 32

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