segunda-feira, 8 de setembro de 2008

SILLY SEASON

Ainda parece que foi ontem que escrevi isto. Quando olhei para as linhas, perdidas no tempo, senti que elas ainda são saudáveis pois atravessaram o tempo e continuam actuais. Mesmo assim, ainda tentei escrever algo mais sério durante o verão. Não consegui. A certeza do que queria, isto é, o resultado final esfumou-se no calor do calor algarvio. Discutir assuntos sérios nesta altura? Não me parece.
É a velha máxima. No verão não se pensa. É aborrecido. Leva tempo e isso, todos o sabemos, por mais ridículo que pareça, é coisa que não temos nesta altura.
Quem não está de férias, não tem tempo porque está a trabalhar para as férias dos outros. Quem está, também não o tem. Dia a dia, levanta-se cedo para comprar o pão. À primeira fila encontrada, sucede-se a segunda quando tenta chegar à praia. Depois a fila do almoço, a do gelado à tarde, a do jantar e ainda a fila para beber umas bebidas ao fim do dia. Enfim, filas para todos os gostos e que estorricam a paciência a qualquer um.
Durante esta altura do ano, não há tempo, nem dá para pensar. Por mais que fosse agora a altura ideal para rejuvenescer as nossas ideias, não há tranquilidade para o fazer.
Assim, pouco importa que haja guerra. Ou que sol esteja mais quente. Ou que a economia esteja em recessão. Ou que o ambiente esteja mais poluído.
Não há tempo para pensar nessas “banalidades”. Elas, se forem importantes e nos quiserem contactar, que deixem mensagem no telemóvel. Logo se pensará nisso. Não vale a pena insistir. Convém mesmo é tentar compreender e facilitar.
Por isso, deveriam haver regras específicas de conversação no verão. Só se deveria discutir a política do bronze, o ministério do gel e dos perfumes, a secretaria de estado das camisas de marca ou o instituto das gabarolices em público. Seria mais fácil. Até porque a verdade é só uma: os portugueses passam-se nesta época do ano.
No verão, imperam as coisas silly. A isto, temos de juntar as exibições da Tita, da Sita, da Gu, da Lu, da Dádá, da Pitu ou da Pipi e outros nomes como tais, que se abanam ao sol, carregadas de revistas cor-de-rosa, telemóveis e bronzeadas da cabeça aos pés.
Não pensem que é mau. É um autêntico “privilégio” conviver, momentaneamente, com este tipo de vida, igual à das telenovelas, ou exibida nos filmes de Hollywood.
O verão e o Algarve são pois indissociáveis. Por um lado, ainda bem. É o reconhecimento de um destino por excelência. Por outro, não deixa de ser estranho que, para alguns, só exista sul durante dois meses por ano. Parece que, durante o resto do ano, somos indígenas. Não sei se é por pensarem que não merecemos mais. Mas também, trezentas mil pessoas contam para quê?
Se ainda estivéssemos numa cidade qualquer da periferia de Lisboa, talvez nos conhecessem o ano inteiro. Assim, toma lá dois meses e já vais com sorte.
Mas, como já o referi, o verão não foi feito para pensar. É aborrecido. Mais vale continuar a ouvir a descrição dos sítios que todos falam mas não sabemos onde ficam, ou festas em locais lindos de morrer, mas onde a entrada nos é sempre vedada.
Justa ou injustamente, é esta a imagem que tenho da silly season, cada vez mais vergada ao peso do pensamento light. Assim sendo, e por enquanto, não vos incomodo mais. Logo voltaremos a pensar depois do verão.

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