sábado, 11 de setembro de 2010

LIVRO DAS MINHAS FÉRIAS

Acabo de ler o livro que partilhou comigo as minhas férias (ou melhor dizendo, parte delas). A minha escolha, este ano, recaiu em Carlos Brito, nomeadamente, no seu livro intitulado Álvaro Cunhal - Sete Fôlegos do Combatente, das Edições Nelson de Matos.
Embora sendo uma primeira vez em relação ao autor, não foi certamente a primeira vez que li algo sobre Álvaro Cunhal, político português, líder histórico do Partido Comunista durante muitos anos, tendo falecido em 2005.
Ler algo sobre Álvaro Cunhal leva-nos quase sempre para o campo da paixão ou do ódio. Todavia, embora estes campos opostos se mantenham actuais, o culto da sua personalidade, goste-se ou não, ainda hoje intriga muita gente, levando a que os livros publicados sobre o próprio tenham parte desse mistério integrado, o que supõe uma maior curiosidade na leitura dos mesmos.
Não fugi à regra, como é lógico. Posso não concordar com a defesa ideológica intransigente que o PCP tem feito ao longo dos tempos, atitudes traduzidas na sua forma de estar e pensar, mas não deixo de pensar que o partido, enquanto organização que visa a democracia, tem feito falta ao xadrês político português.
Sobre Álvaro Cunhal apenas sei o leio. Seja bom ou mau. Sejam as fontes mais ou menos verdadeiras.
Quando soube que Carlos Brito iria publicar um livro sobre alguém com quem partilhou muitos anos de vida, estando em palcos vetados a muitos comunistas de base, isto é, podendo transmitir uma história "vista muito de dentro", quis logo comprar o livro. E, em boa hora o fiz.
Mesmo sabendo que nos últimos anos Carlos Brito foi-se afastando da linha conservadora e dominante do PCP, ou se preferirem, e noutro rigor, tendo sido afastado (basta recordar os 10 meses de suspensão a que foi condenado) de um mundo que ele próprio ajudou a construir, mais curiosidade tive em ler esta obra.
Ela poderia ser escrita à luz de um "acerto de contas". Mas não a li desse modo. Creio que Carlos Brito soube interpretar "à sua maneira", porque o livro é seu e as memórias também, o que me parece natural, toda uma experiência acumulada e fez fé de um relacionamento, digamos privilegiado, com Álvaro Cunhal, deixando-nos a boa parte de apreciarmos o político, mas também a pessoa, o camarada, o amigo.
Este livro foi mais um contributo para cimentar aquilo que penso de Álvaro Cunhal. Não veio colocar o dilema se foi bom ou mau, foi no meu entender as duas coisas, como somos todos provavelmente, veio simplesmente reconfirmar algumas suspeitas que tinha sobre erros políticos cometidos durante os primeiros anos da nossa democracia, embora também revele um estadista que passou por alguns do governos pós 25 de Abril, com trabalho produzido.
Creio que a sua parte mais fraca foram os seus últimos anos onde evitou que o PCP seguisse um caminho mais aberto à sociedade e sem perseguições internas, mas isto, é apenas uma opinião de quem vos escreve estas linhas.
Acertaram e erraram. Venceram e perderam. E, no fundo, esse é o resultado histórico que Carlos Brito enuncia nas suas conclusões.
A única coisa que desgostei neste livro está espelhada na página 272 e que me deixou bastante apreensivo. Nada que não suspeitasse e que esteja sempre presente cada vez que critico o PCP e o seu comportamente. Na parte final desta página, Carlos Brito escreve o seguinte "(...) eu não recusava a vigilância revolucionária em relação aos adversários políticos e aos inimigos da classe (...)". Tão perigoso quanto desnecessário, mesmo que estejamos a pensar numa frase de hoje e que tem por enquadramento os dias agitados que se viveram naquela altura.
Tirando isto, parabéns ao autor.

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