Confesso-o sem rodeios. Nunca me passou pela cabeça escrever sobre a Gripe A (H1N1), apesar de ser um tema que me merece toda a atenção, por uma diversa ordem de factores. Tenho medo, como tantos outros têm. Sinto receio pela minha família, em especial pela minha filha de um ano e meio, como tantos outros sentem pelas suas. Procuro toda a informação que posso, como tantos outros o fazem, na ânsia de tomar uma decisão objectiva sobre o assunto. Aliás, é precisamente em nome desse desespero que escrevo as próximas palavras.
O que pensará o comum mortal do que se tem passado em redor da vacinação contra a Gripe A? Alguém, em perfeito juízo, consegue ficar esclarecido? Não, ninguém fica. Atentemos num comentário, igual a tantos outros publicados em milhares de fóruns que existem sobre este assunto: «Estou com um nó na cabeça. Sou professora e estou rodeada de miúdos. Não sei mesmo o que fazer. A minha obstetra, apresenta-me os factos da Direcção Geral de Saúde, a minha ex-médica de família vai-se vacinar, mas a minha actual médica de família recusa-se. Caramba, se o próprio pessoal de saúde se recusa??!!! O que se deve pensar? Uma amiga que é farmacêutica, é apologista da vacinação, mesmo durante a gravidez...»
Costuma-se dizer que da discussão se faz a luz. E isso está certo. São necessárias opiniões distintas para que se possa aclarar um assunto. Mas, observar tamanha diversidade de concepções entre profissionais de saúde e num assunto tão melindroso como este, é um acto bárbaro.
Por um lado, a Direcção Geral da Saúde assume que «a vacinação tem por objectivos a protecção dos cidadãos mais vulneráveis, de modo a reduzir a morbilidade e a mortalidade, assegurar a continuidade dos serviços fundamentais e, ainda, reduzir a transmissão e a velocidade de expansão da doença». Por outro lado, alguns profissionais de saúde contrariam a utilidade desta vacina por não estar provada a sua conveniência e apuradas as suas consequências.
Esmiucemos a questão. Se o Estado me pedir para me jogar para um poço, obviamente, não o farei. Todavia, e mesmo fazendo o esforço de acreditar que muitas vezes existem interesses económicos em sectores tão importantes como o da saúde, quem sou eu para questionar as indicações de quem tutela a saúde, seja a nível nacional, europeu ou mundial? Quererão estas pessoas ver-me morto? Serão capazes de estar enviar milhares de pessoas ávidas desta vacina para o desconhecido? Quero acreditar que não.
Por isso, para ficar esclarecido, também tenho procurado uma prova irrefutável de que não vale a pena vacinar-me entre aqueles que dizem que não tomam a vacina, mas que estão ligados à área da saúde. Não encontro. Apenas leio e ouço respostas firmes mas com justificações muito vagas e sem suporte científico.
Eu quero acreditar que as pessoas que não querem tomar a vacina, e cuja vontade temos de respeitar, pensam ter razão e por isso sentem necessidade de avisar os outros. Mas, não consigo aceitar é que, sem provas concretas, andem a criar um clima de alarme social que apenas ameaça a saúde geral e nos confunde a todos.
Assim sendo, e porque já fomos longe demais, que se apurem os factos com rigor, porque se assim não for, numa radicalidade meramente literária, ou se manda “prender” quem nos está a expedir pretensamente para a morte, ou se manda “prender” todos aqueles que nos andam a desassossegar o espírito, sem qualquer motivo.
Uma coisa parece-me óbvia. Ambos os lados não podem ter razão ao mesmo tempo.
Publicado no Jornal do Algarve, edição de 26 de Novembro de 2009
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