quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

IMPERDOÁVEL

Há uma frase que persiste na minha mente desde a semana passada. Alguém que é responsável pela empresa Estradas de Portugal comentou, de uma forma leve e como se não fosse nada grave o facto de não ter havido inspecções subaquáticas no corrente ano, devido “à falta de verbas” para o efeito.
Não quis acreditar e ainda hoje, vários dias após esta audição, continuo estupefacto com tal declaração que revela, a meu ver, uma enorme falta de bom senso e, também, de gestão das prioridades da causa pública.
Eu sei que o dinheiro não estica. Sei também que vivemos tempos difíceis e, por si só, qualquer gasto deve ser planeado e bem justificado.
Todavia, num país que ainda respira o luto da perda de pessoas inocentes que faleceram numa noite escura e fria de Janeiro de 2001, tragédia que marcará para sempre a localidade de Entre-os-Rios e o próprio país, adiar um conjunto de inspecções que nos permitirão ter uma avaliação mais rigorosa e profunda do estado das nossas pontes, parece-me sórdido.
Bem sei que aí vêm vinte milhões de euros para gastar em 2010. Sei também que a empresa Estradas de Portugal, não quer alarmar as pessoas e a sua apreciação de pontes “em estado preocupante não significa que estejam em situação de risco” (parece irreal esta afirmação, mas pertence ao senhor Vice-Presidente da EP, Eduardo Gomes, em entrevista à RTP).
Ainda tento concluir, com muito esforço acrescento, que as pessoas sabem o que estão a fazer. Mas, perante tamanha incompetência, torna-se difícil. E não são casos únicos.
Em Novembro de 2007, escrevi um texto sobre a ponte metálica de Portimão. Nesse texto discorri sobre todos os passos dados para que fosse necessária a intervenção na dita ponte. O processo, recorde-se, teve início em 2001 quando num relatório se concluiu que «a obra foi classificada no EC4 (mau a muito mau) na sequência de Inspecção Principal realizada no âmbito do Programa de Inspecção de Obras de Arte a Nível Nacional, realizado em 2001.»
Atentemos a data em que se iniciaram as obras, isto é 2007/2008. Terminaram em 2009, o que nos dá um período de seis a sete anos para que alguém fizesse algo.
Questiono portanto, quem é que deve responsabilizar a EP? Quem é que deve mandar efectuar imediatamente as inspecções subaquáticas para que todos possamos ficar esclarecidos quanto ao verdadeiro estado das nossas pontes? Para quando o fim destas declarações públicas que nos envergonham a todos e apenas confirmam que muitos agem por reacção e medo da comunicação social, em vez de agirem em tempo oportuno.
Quem souber ou puder que responda.

Publicado no Jornal Região Sul, edição de 9 de Dezembro de 2009. Link: http://www.regiao-sul.pt/noticia.php?refnoticia=100616

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