Daqui a menos de dois meses, disputar-se-ão as eleições legislativas. Até lá, por entre todo o barulho de fundo a que estamos acostumados, certamente, seremos confrontados com muitas propostas políticas que merecerão ou não o nosso apoio.
Hoje, segundo o que se mede amiúde através de múltiplas sondagens, sabe-se que os portugueses estão, cada vez mais e quase num sentido irreversível, descontentes com os actos públicos praticados (leia-se medidas governamentais), embora ainda acreditem, aqui e acolá, no que se lhes promete antes das eleições. Mas é sol de pouca dura.
Cada vez mais atentos e esclarecidos, os eleitores, sabem distinguir quem é este ou aquele candidato e qual o histórico de cada partido no exercício da nossa democracia.
Ora, isto significa que apesar do alheamento a que a política está votada, nestas ocasiões pré eleitorais, os portugueses procuram fazer os seus equilíbrios. Mesmo que ainda exista espaço para um certo romantismo político, ora porque gostamos de ouvir aquele sound bite, ora porque gostamos daquela pessoa concreta ou, simplesmente, porque gostamos daquilo mas não sabemos bem porquê e atribuímos tudo à empatia que sentimos, o certo é que a razão (pelo menos aquela que achamos ser a nossa) tende a situar tudo de uma forma mais complexa.
Hoje, comunicar no sentido político, exige uma clarividência que não está ao alcance de todos. Há que saber contrariar os preconceitos bizantinos, pugnando por uma abertura de horizontes e pelo arrojo de novas ideias e projectos.
Apenas assim se poderá combater o descrédito assente na nossa sociedade e vencer aquela ideia de que vale tudo, desde que os próprios políticos falem em nome dos portugueses. Aliás, esta última ideia, enferma num problema que me parece elementar. Ninguém deveria falar em nome dos portugueses constantemente, como se eles fossem uma massa inerte e até de alguma forma seguidista, porque ninguém foi mandatado para os representar ao minuto.
Não se deve nem pode confundir o mandato político de quem ganha e por isso tem de governar, com uma apropriação do Estado a seu belo prazer, arrogando-se a todas e quaisquer iniciativas ao abrigo desse chapéu-de-chuva.
Hoje dar um voto a alguém não é conferir um mandato cego e sem responsabilidades. Ainda que não possamos fiscalizar o trabalho de quem nos governa de uma forma mais assídua, independentemente do partido que lá esteja, o caminho terá de passar pela criação de instrumentos que possam garantir uma maior participação dos eleitores entre eleições, o que não significaria governar sob cordas, mas implicaria uma proximidade dos eleitos aos eleitores.
É por estas e por outras situações que estes momentos eleitorais encerram em si um conjunto de vectores que julgo fundamentais. Eis chegada a hora de nos esclarecerem convenientemente e tal missão já não pode ser encarada levianamente.
Podemos achar muita piada às camisolas, porta-chaves e canetas que nos entregam. Mas, certamente, não serão com essas “futilidades” que os partidos marcarão a agenda política, nem tão pouco conseguirão conquistar o nosso voto.
Publicado no Jornal do Algarve, edição de 6 de Agosto de 2009
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