quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

UM DIA PODEREMOS SER NÓS… OU JÁ O SOMOS?

Estar quase trinta dias sem escrever é complicado. Naturalmente, vamos juntando dezenas de ideias sobre assuntos que gostaríamos de abordar, e isso, quase sempre, reflecte-se numa vontade de querer falar sobre tudo, correndo o risco de não desenvolver em profundidade quase nada.
Porém, por estes dias, não falar da avaliação dos professores; da ideia profundamente agora provada de que andávamos a ser “roubados” escandalosamente quanto ao preço dos combustíveis; dos novos pobres (reportagem dramática, publicada na semana passada pelo JN); do passo positivo da Comissão Europeia para ajudar a estimular a economia da Europa, entre outros assuntos, é estar fora dessa avalanche de informação.
Perante tantos assuntos, todavia, nem pestanejei em escrever sobre a nova pobreza que por aí grassa e os novos tempos que se avizinham. Faz agora um ano que publiquei um artigo de opinião, intitulado Novos Pobres, em que assumia «que estes vão juntar-se fatalmente aos pobres que já existem. Acrescentava que nessa «soma infeliz cabem, desde há algum tempo, todas as famílias atingidas pelo desemprego e endividamento, o que as leva a não conseguirem cumprir as suas obrigações». Tal como havia lido numa reportagem sobre o assunto, «a chamada classe média, esganada pelos créditos ou apanhada nas malhas do desemprego crescente, constitui uma nova forma de pobreza».
Actualmente, nada mudou para melhor. Pior, a frase com que concluía o meu raciocínio na altura está cada vez mais presente, isto é, «a classe média, sempre a maior sofredora e vítima de todos os esforços necessários, está a esvair-se porque não aguenta o ritmo de uma sociedade que, por vezes, parece querer vê-la morta.»
Assim, perante os novos dados trazidos a público na semana passada, o próprio Presidente da República, Professor Cavaco Silva, destacou o trabalho das misericórdias no que se refere a "uma certa pobreza envergonhada" que existe no país, sublinhando que quem antes ajudava agora precisa de ajuda, acrescentando ainda que estão a surgir novas formas de pobreza e de exclusão social, fruto dos maiores riscos de desemprego que existem e das dificuldades de pagamento dos empréstimos para comprar casa que muitas famílias enfrentam, ou seja, a nova pobreza afecta pessoas que procuram esconder a cara no momento em que procuram ajudam.
As pessoas, ou seja muitos de nós, precisam de ajuda. Neste capítulo, e porque alguns membros do Vialgarve tiveram o prazer de jantar recentemente com o Professor Adriano Pimpão, responsável pelo Banco Alimentar Contra a Fome Algarve, torna-se imperioso reclamar o apoio para instituições como esta e outras similares, fundamentais na ajuda aos mais necessitados, assim como, também gostaria de realçar aqui o papel das misericórdias, que muito têm trabalhado em prol de milhares de pessoas.
Apelo pois ao envolvimento de todos quantos puderem ajudar. E nisso incluo, sobretudo, um apelo à consciência de todas as pessoas que lideram organizações, sejam governamentais ou não, que costumam estar acima de tudo e todos, habituadas a um distanciamento que choca qualquer um, mas que devem ser chamadas à razão para que possam ajudar quem mais necessita nestes tempos difíceis. O seu contributo, mais do que um acto de cidadania, é um dever moral.

Publicada no Jornal do Algarve, edição de 4 de Dezembro de 2008

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