segunda-feira, 27 de outubro de 2008

INEXPLICÁVEL

Percebo pouco de economia e, confesso, os números fazem-me confusão. Mas, mesmo assim, dentro deste défice pessoal de que não me orgulho, consigo descortinar bem o papel inverosímil das nossas petrolíferas, nomeadamente as de maior expressão.
Todos sabemos que os combustíveis com que abastecemos hoje foram negociados há três meses. Esse é, ou deveria ser, o preço de referência para que as petrolíferas pudessem negociar o produto final. Todavia, não o é.
Assistimos com algum nojo, sentimento que cresce e que terá brevemente consequências imprevisíveis, a uma estranha cultura financeira e que se regula por regras, no mínimo, pouco éticas. Isto é, se os preços estão muito altos o consumidor é imediatamente penalizado. Ora porque há problemas que interessa debelar, ora porque somos nós que temos de suportar esses delírios petrolíferos. No entanto, se o preço desce, como é presentemente o caso, é-nos negada uma baixa correspondente dos valores a pagar porque a situação ainda não está consolidada, assente no pretexto de um "mal-entendido entre a baixa do crude e dos refinados”.
A discrepância assente nos números que nos demonstram que de Dezembro de 2006 ao mesmo mês de 2007, o gasóleo subiu 17,2% em Portugal enquanto que o preço do petróleo, 1,5% em euros, soa a comportamento falso. Pior. Soa a roubo e ultraje.
Neste novelo de várias interpretações, onde o próprio governo já deveria ter intervindo com alguma força, apesar de não ser uma competência directa, surgem afirmações para todos os gostos, mas que confirmam o óbvio, ou seja, a baixa do preço do petróleo não se reflecte, proporcional e simultaneamente, na descida do custo dos combustíveis em Portugal.
O ACP fala mesmo em "oligopólio em termos de refinação no mercado" português. O presidente da Anarec – Associação Nacional de Revendedores de Combustíveis –, na data em que escrevo este artigo, pretendia entregar um documento na Autoridade da Concorrência se os preços dos combustíveis não baixarem, seguindo a descida do petróleo. Até o próprio ministro da Economia, Manuel Pinho, depois de perceber o que está em causa, considerou “positiva a descida do preço de petróleo” esperando todavia, como é sua "obrigação", que as petrolíferas "também baixem" o preço de venda ao público.
É certo que a economia está mal. Todos reconhecemos também que a especulação esteve instalada até há poucos dias no sector petrolífero. Todavia, não aceitamos que nos contem meias verdades, nem tão pouco que nos façam de tolos. Ao assistir ao excessivo poderio e arrogância com que as principais petrolíferas nos têm tratado, interrogo-me se não haverá uma lição justa para lhes dar?
Perdoem-me este julgamento sumário, mas, na minha opinião, já a estão a merecer há muito tempo. Haja coragem para a aplicar.

Publicada no Jornal Região Sul, edição de 1 de Outubro de 2008
link http://www.regiao-sul.pt/noticia.php?refnoticia=88183

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