domingo, 29 de junho de 2008

MUSEU RURAL DA QUINTA DOS AVÓS

Parte daquilo que somos, devemos sempre partilhar, de forma a podermos sempre saber de onde viemos e o que fomos. Esta orientação, ou máxima, se preferirem, esteve bem presente aquando de uma visita que efectuei, há algumas semanas atrás, ao Museu Rural da Quinta dos Avós, anexo a uma conhecida casa de chá, onde se pode saborear o que ainda se faz de doçaria tradicional do Algarve.
Mais do que fazer publicidade, e seria perfeitamente justificada porque está em causa uma qualidade de serviço e de sabores regionais naturais que importam realçar sem complexos, convém realçar, porque é isso é o cerne deste texto, a vontade que os seus proprietários tiveram em preservar um pouco da história recente, distante no tempo, mas ali tão perto e “ao sabor” dos objectos que representam um Algarve desconhecido.
Para ser honesto, e depois de tantas visitas que efectuei ao local (casa de chá), nunca tinha notado a riqueza que estava ao meu lado. Foi apenas quando cumprimentei a senhora Maria da Encarnação, proprietária da Quinta dos Avós, pela conquista do prémio «Aurum 2007 para a melhor artesã de comida tradicional europeia» que através do seu convite gentil, fiquei a conhecer o museu.
Fiquei perplexo. Para além da simpatia e das explicações detalhadas do proprietário, José de Jesus Gonçalves, claramente familiarizado com o espólio que orgulhosamente tem em exposição, tive a oportunidade de ver uma pequena colecção de veículos de tracção animal, na sua maioria provenientes da actividade agrícola, e um conjunto de objectos de excelente qualidade que permite a compreensão da evolução técnica e artística dos meios de tracção animal utilizados pelos algarvios até ao aparecimento do automóvel. Para além dos carros, a colecção reúne ainda um conjunto significativo de alfaias agrícolas, arreios, bem como de instrumentos de trabalho e de lazer. A tudo isto ainda se junta uma colecção gravuras e fotografias relacionadas com as peças ou com a história do museu, assim como, um contacto muito próximo com a história e a cultura etnográfica dos veículos tradicionais algarvios.
Segundo o que pude consultar, através do sítio http://www.jf-algoz.pt/museus.php, fiquei a saber que o museu realiza periodicamente actividades culturais que têm como objectivo a divulgação e valorização da cultura algarvia. Das principais actividades desenvolvidas destacam-se cantares de janeiras, artesanato ao vivo, festas dos santos populares, festa da desfolhada e passeios de burro.
Este projecto, que pelo que me foi dito, partiu de uma teimosia sã dos seus proprietários, merece um profundo reconhecimento. Merece mais até. É necessário que se olhe para este espólio como uma prova da vida de muitos algarvios e das dificuldades que sentiram em tempos em que nada havia, a não ser o trabalho árduo e sem condições que marcava um Algarve rural de que muitos nunca ouviram falar.
Para além de felicitar essa “teimosia” dos proprietários do Museu Rural da Quinta dos Avós, convido todos a visitar este espaço, fazendo votos que os responsáveis governamentais pela nossa cultura, saibam interpretar a potencialidade do que lá está e saibam ajudar a dignificar este espaço, contribuindo para que este espólio possa crescer e chegar a mais pessoas, entre os quais, os nossos jovens, tão necessitados destes contactos com uma história que julgam ser de outra galáxia.

Publicado no Jornal do Algarve, edição de 19 de Junho de 2008

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