segunda-feira, 5 de maio de 2008

Ontem...dia da Mãe

Ontem foi dia da mãe. Nada melhor do que homenageá-la com as palavras que têm sido elogiadas por muitos dos que as têm lido. Por falar neste assunto, um agradecimento especial a todos os que comentaram esta crónica aquando da sua publicação.


VER-TE PARTIR…


Esta é uma crónica sentida. E por isso, não é fácil. Quem tem paciência para ler aquilo que escrevo frequentemente, sabe que já o fiz sobre muitas coisas. Aliás, só assim é que sei estar, com essa liberdade própria de quem se encanta com a escrita, marcadamente pessoal, com várias opiniões e em diversas direcções. Creio que tirando um caso que me lembro, nunca escrevi directamente sobre uma pessoa. Hoje, decidi fazê-lo, sabendo que essa pessoa, que já não está entre nós, não é uma pessoa qualquer.
Precisamente hoje, faz dez anos que a minha mãe faleceu. Partiu corroída por dentro, minada por uma doença estúpida que tarda em ter cura. Sei perfeitamente que é uma história igual a tantas outras, infelizmente com o mesmo fim, e que cada um de nós guarda para si ou conta aos demais.
Decido hoje falar da minha mãe porque tenho saudades dela. Essencialmente isso. E dentro deste espírito que muitos poderão apelidar de piegas, que aceito mas do qual me orgulho, não tenho vergonha em partilhar convosco esse sentimento tão íntimo.
Presto-lhe esta homenagem singela através do reconhecimento de quem era, da maneira como se comportava perante as situações da vida, pelo seu repetido sorriso mesmo perante as dificuldades e, dentro disto, pela maneira digna como aceitou o fardo com que partiria, nunca deitando a toalha ao chão. Aliás, essa coragem toda que demonstrou, sendo um exemplo, é a maior referência pessoal que tenho na minha vida.
De facto, se ela pudesse ler estas linhas, por magia ou por outros quaisquer encantamentos, ficaria com a sensação justa que mais do que ser filho, quem escreve isto o faz de uma forma imparcial. Mesmo sabendo de que fala da sua própria mãe.
Habituei-me por princípio e porque acredito, a não discutir qual é o mais importante, se é a mãe ou o se é o pai. São os dois porque ambos se complementam, ponto final parágrafo. Por isso, esta noção de família, quando se perde um dos dois, fica abalada. E este é o maior tributo que posso dar à memória da minha mãe: reconhecer a maneira como me educou e a falta que sempre me fez e continuará a fazer.
Não resisto a fazer um comentário final paralelo, que não sendo por ressentimento com a vida, ela é o que é e não há nada a fazer, faz todo o sentido para mim. Por vezes, e isso irrita-me solenemente, fico transtornado quando ouço comentários de certas pessoas que não compreendem a felicidade de poder contar ainda com o apoio dos pais. É demasiado mau, é certo. Mas analisemos esse melhor esse desprendimento.
Numa sociedade que perdeu uma certa orientação dos seus valores, falta saber reintroduzir o valor da educação que recebemos, a vontade para que a sociedade consiga estimular o conceito de se estar mais tempo em família, mesmo aceitando os compromissos profissionais/sociais de cada um, ou ainda para assimilar que os pais deverão ser actores activos e não passivos.
Ora este grande desafio dos tempos modernos, não é despiciente. É o reconhecimento da importância que todos os pais têm, em vida ou depois dela, em relação aos filhos. É por defender esta convicção que não esqueço a minha mãe. Nem que passem outros tantos anos.

Publicada no jornal Região Sul, em 9 de Abril de 2008

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