Não posso dizer que me sinto desiludido convosco, porque isso seria admitir que alguma vez me teria iludido, mas a verdade é que me sinto desapontado, para não escrever uma palavra menos agradável, com o chorrilho de asneiras que, V. Exas., Ministros da Economia, Manuel Pinho, e das Finanças, Teixeira dos Santos, têm balbuciado nos últimos dias a propósito do aumento assassino dos combustíveis em Portugal.
Não vou ao encontro dos facilitismos. Nem procurarei defender medidas fáceis a pedido porque sei que muitas vezes enterram mais o problema do que o resolvem. Estejam, por isso, descansados. Todavia, quando ouço que o nosso governo jamais irá baixar o imposto sobre os combustíveis, preferindo amplificar um problema social a interagir com as armas que dispõem nesta aventura desgraçada, sou obrigado a pensar que tipo de pessoas são estas, legítimas representantes do Estado, mas que não cumprem os requisitos para o defender com sensatez e perspicácia.
O aumento sucessivo dos combustíveis não tem razão de ser. As palavras que têm justificado essas medidas também não. E a inércia do nosso governo muito menos ainda. Trata-se, portanto, de um embuste que alguns (merecíamos ao menos saber quem) estão a fazer a milhares de portugueses, que como eu, não têm outra alternativa senão continuarem a contribuir com os seus euros sabe-se lá para que interesses. E, ainda por cima, para cúmulo desta situação, quando nos queixamos, quando propomos soluções para esta crise social, ainda somos apelidados de tudo o que aqui tenho vergonha de reproduzir.
Pergunto que defensores são esses e que Estado preconizam? Ao abrigo de uma contenção de despesa pública, que falha sistemática e escandalosamente, vão-nos obrigando a correr sozinhos para um precipício certo. E o pior não é isto. Mau mesmo, é sabermos que todos nós, contribuintes e carecidos de abastecer semanalmente, parecemos aquelas pessoas que estão a morrer de sede e ao seu lado aparecem duas almas, neste caso, com muitas responsabilidades neste assunto, que tendo duas garrafas de água, nos dizem que não podemos consumir. É este o sentido figurado desta crise.
Acredito num estado justo que dê a liberdade aos seus cidadãos de optarem, que lhes ensine primeiro a pescar antes de poder dar ou não a cana, mas que os auxilie quando tal é verdadeiramente indispensável.
Os quase vinte aumentos sucessivos dos combustíveis são uma vergonha nacional. E, mais do que isso, é um erro global que muitos já diagnosticaram, mas que alguns teimam em dizer que está tudo bem, preferindo assobiar para o lado.
Olhem para a nossa vizinha Espanha. Principalmente aqueles que vêem em Zapatero um exemplo a seguir compreendam porque é que ao mínimo sinal de abrandamento da sua economia o primeiro-ministro espanhol se reuniu com os agentes económicos. Depois façam a devida comparação com as declarações infelizes dos dois ministros acima referenciados. Só pode ser mesmo uma brincadeira infeliz, não acham?
Publicado no Jornal Barlavento, edição de 29 de Maio de 2008
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