terça-feira, 23 de março de 2010

SERÁ QUE VALE A PENA?

Bem sei que escrever em causa própria é complicado e pode ser entendido como arbitrário. Mas a questão, colocada como tal, merece o correr de tais riscos. Falemos de futebol. Mas não só. Falemos de uma cidade, de um concelho e de uma região que é a minha, a sua e a de todos nós, sejam nascidos ou adoptados: o Algarve.
O caso do Olhanense tem-me deixado de sobreaviso. Sem falsas emoções, isto é, sem deixar que a rivalidade algarvia pudesse minar o que verdadeiramente sentia, na época passada, apoiei e fiquei feliz por o Olhanense ter subido à Primeira Liga do futebol português. Era e é bom para esta região.
Todavia, uma certa apatia que fui notando ao longo do tempo, na questão da angariação dos apoios monetários e sociais necessários para que a sua passagem seja mais do que uma curta visita, foi-me deixando apreensivo. E não tardei em olhar para o vizinho do lado…
Confesso que não tenho com o Olhanense a mesma relação que tenho com o Portimonense. Sou sócio do clube alvinegro, actualmente sou seu dirigente e, a par disto, enquanto homem nascido e criado em Portimão com muito orgulho, estou habituado a servir em muitas das associações deste concelho e, por isso, sou um conhecedor do estado das coisas.
Por isso, inquieto-me com a nossa apatia quase histórica. Não se trata de arranjar aqui um rol de acusadores e acusados. Trata-se apenas de pensarmos mais uma vez se valerá a pena o Portimonense subir de divisão sem o devido apoio monetário e o apoio popular (também muito importante)? Esta é a questão.
Independentemente da reflexão que julgo necessária, a minha opinião mantém-se, ou seja, o Portimonense, se conseguir, porque milita num campeonato muito competitivo, deve subir de divisão. Todavia, a par disto tem de haver uma reaproximação das pessoas ao clube e um certo comodismo a que estamos habituados, deverá ceder em nome de uma nova atitude.
Hoje, muitos têm sempre a tendência de colocar o ónus da culpa do lado dos outros, isto é, se os clubes não funcionam é porque os seus dirigentes, atletas e colaboradores não são capazes. E, como sabemos, o mundo de futebol é isto mesmo, hoje os maiores, amanhã os piores.
A profissionalização dos clubes, exigiu uma nova forma de gestão, por vezes, mal aplicada, mas, regra geral, e ainda bem que assim o é, num maior número de ocasiões, capaz de ir ao encontro dos novos desafios.
Apenas aqueles clubes que encontrarem uma massa adepta exigente, crítica mas leal, tão participativa como constante, conseguirão ter sucesso. Esta máxima não é conversa tola. É a consequência de uma entrega que faz andar a roda, isto é, que traz ao clube visibilidade e que o empurra para outros voos.
Lembro aqui, porque fui o responsável por essa ideia a nível intermédio, o facto de que por diversas vezes termos aberto o então Estádio do Portimonense ao público, tentando promover esse tal reencontro com as pessoas. O meu espanto foi enorme. As pessoas, mesmo assim, continuavam passivas, descrentes e pouco audazes.
É sempre mais fácil dizer que não há mecânica deste lado. O complicado é entender que se não houver essa participação, se não conseguirmos curar essa doença de que todos os portimonenses padecem, tudo ficará igual, isto é, continuaremos a ver os outros nos lugares que sentimos ter direito.
Desde há muito tempo que tenho vindo a abordar esta passividade. Não é de agora. Todavia, depois de um jogo onde tudo correu mal há dois fins-de-semana, e perante a recta final deste campeonato, faz todo o sentido deixar aqui essa questão de uma forma que não pretende ser ofensiva mas procura ser honesta.
Costuma-se dizer que em tempos difíceis e em que se requer união e participação, surgem atitudes que marcam e fazem a diferença. Será que temos capacidade de aprender essa lição?
A bola ainda está no nosso lado.

Publicado no Jornal Barlavento, edição de 18 de Março de 2010
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