quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A AFIRMAÇÃO DO MARKETING SEM GUERRAS

É frequente e, infelizmente, tem tendência para continuar a sê-lo. Na guerra surda e absurda em que cada um tenta justificar o saber que possui e o seu carácter imprescindível na empresa onde exerce funções, muitas das vezes, por causa destas questões mesquinhas, perdem-se recursos e tempo fundamentais.
A empresa é um todo. E essa noção de que tudo trabalha para o mesmo objectivo, isto é, garantir que se ganhará lealdade e satisfação nas trocas que existirão, é fundamental para enquadrarmos um dos próprios campos de saber, isto é, o marketing.
Ainda que venha a atravessar a sua adolescência, visto ser muito recente quando comparada com outros campos de saber, o marketing tem sabido interpretar o sinal dos tempos, marcando uma nova era e sendo um precioso aliado em quaisquer análises que se façam.
Por isso, ganhando o seu próprio espaço, sem que isso necessariamente signifique uma conflitualidade (apenas alimentada na cabeça de quem não sabe ou não quer compreender a sua importância), o marketing deve ser entendido como uma ferramenta importante para decifrar os novos mercados, os novos paradigmas e os novos comportamentos.
Entre outros autores, Philip Kotller, professor da Kellogg School of Management, Northwestern University (Estados Unidos) e personalidade reconhecida pelo Management Centre Europe, como “the world's foremost expert on the strategic practice of marketing”, descreveu este campo de saber como, «o processo do planeamento e execução da estratégia de conceptualização, promoção, estabelecimento de preço e distribuição de ideias, bens ou serviços que, através de um processo de troca, satisfaça objectivos individuais e/ou organizacionais das partes envolventes».
Philip Kotler, acrescentaria ainda, no seu livro Marketing de A a Z (Editora Campus, 2003), uma necessidade de «identificar necessidades e desejos insatisfeitos, convocando todos na organização para pensar no cliente e atender o cliente.»
Novamente recusando qualquer laivo de partidarismo fácil, até porque a minha formação inicial é de Gestão de Recursos Humanos, acredito que estas definições são bastante perceptíveis e de indiscutível importância.
Não abordarei aqui, porque não é esse o meu objecto, se o Marketing é uma ciência ou simplesmente o uso da tecnologia que temos ao nosso alcance. Prefiro outro ponto de partida.
Com muito pouco de acidental, há umas semanas atrás, o Comendador Rui Nabeiro, líder da empresa Delta, numa reportagem feita sobre a sua empresa, repetia até à exaustão que era “preciso inovar todos os dias para cimentar a nossa posição”. O que levará um homem sabido e com uma cultura de negócio apuradíssima a colocar uma enorme ênfase nesta questão?
Vejamos ainda outro exemplo. O que levará a Viarco, empresa centenária de lápis portuguesa, através de um dos seus responsáveis colocar também muita ênfase na profunda “necessidade de inovar para continuar a sobreviver no mercado”?
Na minha opinião, é simples. O Marketing, entre outras coisas, colocou-nos perante um paradigma de negócio cuja base não pode ser menosprezada. Ao trocarmos o foco no produto pela centralização no cliente, no apuramento e satisfação das suas necessidades para que nós (empresa) possamos estar também satisfeitos, foi dado um tiro no pensamento antigo que nos reportava para uma ausência de vida no processo de troca.
Inovar, neste quadro, é, não só uma necessidade, como uma exigência. Quem inova ganha, quem se deixa acomodar, perde. Ou, se preferirmos a sabedoria ancestral de um provérbio chinês, “se não mudarmos de direcção, é provável que fiquemos na direcção em que estamos”.
Ora, pelo que podemos constatar, muitos dos que hoje criticam abertamente “a demagogia do marketing e dos marketeers” faltaram às aulas onde se efectuou a aprendizagem desta cultura de inovação. Não viria mal ao mundo, se não tivéssemos que andar em permanente guerra sobre qual ciência é fundamental à empresa ou sobre qual deve ser dominante.
Não perfilho a ideia de que o marketing é o centro exclusivo do universo empresarial. Não gosto de radicalidades. Mas sei, por experiência própria, que este campo de saber tem alicerces para se manter vivo, o que revelará a sua utilidade face à quantidade de desafios que as empresas deste século têm, na senda da tal inovação constante que se lhes impõe.
Assim sendo, mesmo por entre algumas considerações fantasiosas que os marketeers continuarão a ouvir em surdina, estes deverão continuar a explorar novas abordagens, reunir cada vez mais dados para uma melhor análise do padrão dos consumidores e do seu consumo (iremos ouvir falar muito de neuromarketing), na procura de atingir o máximo de satisfação e lealdade destes.
Só assim chegaremos à essência de outro dos muitos conceitos proferidos por Philip Kotler que nos resume que «as boas empresas vão ao encontro das necessidades; as empresas excelentes criarão mercados».
Sejamos astutos. Isto só se consegue com a empresa a funcionar como um todo, na plenitude de todos os seus saberes devidamente entrosados e através de uma constante inovação, prática indispensável para sobreviver em qualquer mercado.

Publicado aqui http://aeiou.expresso.pt/a-afirmacao-do-marketing-sem-guerras=f553165 e na edição do Jornal Expresso, caderno de economia, edição de 19 Dezembro de 2009

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

IMPERDOÁVEL

Há uma frase que persiste na minha mente desde a semana passada. Alguém que é responsável pela empresa Estradas de Portugal comentou, de uma forma leve e como se não fosse nada grave o facto de não ter havido inspecções subaquáticas no corrente ano, devido “à falta de verbas” para o efeito.
Não quis acreditar e ainda hoje, vários dias após esta audição, continuo estupefacto com tal declaração que revela, a meu ver, uma enorme falta de bom senso e, também, de gestão das prioridades da causa pública.
Eu sei que o dinheiro não estica. Sei também que vivemos tempos difíceis e, por si só, qualquer gasto deve ser planeado e bem justificado.
Todavia, num país que ainda respira o luto da perda de pessoas inocentes que faleceram numa noite escura e fria de Janeiro de 2001, tragédia que marcará para sempre a localidade de Entre-os-Rios e o próprio país, adiar um conjunto de inspecções que nos permitirão ter uma avaliação mais rigorosa e profunda do estado das nossas pontes, parece-me sórdido.
Bem sei que aí vêm vinte milhões de euros para gastar em 2010. Sei também que a empresa Estradas de Portugal, não quer alarmar as pessoas e a sua apreciação de pontes “em estado preocupante não significa que estejam em situação de risco” (parece irreal esta afirmação, mas pertence ao senhor Vice-Presidente da EP, Eduardo Gomes, em entrevista à RTP).
Ainda tento concluir, com muito esforço acrescento, que as pessoas sabem o que estão a fazer. Mas, perante tamanha incompetência, torna-se difícil. E não são casos únicos.
Em Novembro de 2007, escrevi um texto sobre a ponte metálica de Portimão. Nesse texto discorri sobre todos os passos dados para que fosse necessária a intervenção na dita ponte. O processo, recorde-se, teve início em 2001 quando num relatório se concluiu que «a obra foi classificada no EC4 (mau a muito mau) na sequência de Inspecção Principal realizada no âmbito do Programa de Inspecção de Obras de Arte a Nível Nacional, realizado em 2001.»
Atentemos a data em que se iniciaram as obras, isto é 2007/2008. Terminaram em 2009, o que nos dá um período de seis a sete anos para que alguém fizesse algo.
Questiono portanto, quem é que deve responsabilizar a EP? Quem é que deve mandar efectuar imediatamente as inspecções subaquáticas para que todos possamos ficar esclarecidos quanto ao verdadeiro estado das nossas pontes? Para quando o fim destas declarações públicas que nos envergonham a todos e apenas confirmam que muitos agem por reacção e medo da comunicação social, em vez de agirem em tempo oportuno.
Quem souber ou puder que responda.

Publicado no Jornal Região Sul, edição de 9 de Dezembro de 2009. Link: http://www.regiao-sul.pt/noticia.php?refnoticia=100616

POR FAVOR, “PRENDAM” ALGUÉM!!!

Confesso-o sem rodeios. Nunca me passou pela cabeça escrever sobre a Gripe A (H1N1), apesar de ser um tema que me merece toda a atenção, por uma diversa ordem de factores. Tenho medo, como tantos outros têm. Sinto receio pela minha família, em especial pela minha filha de um ano e meio, como tantos outros sentem pelas suas. Procuro toda a informação que posso, como tantos outros o fazem, na ânsia de tomar uma decisão objectiva sobre o assunto. Aliás, é precisamente em nome desse desespero que escrevo as próximas palavras.
O que pensará o comum mortal do que se tem passado em redor da vacinação contra a Gripe A? Alguém, em perfeito juízo, consegue ficar esclarecido? Não, ninguém fica. Atentemos num comentário, igual a tantos outros publicados em milhares de fóruns que existem sobre este assunto: «Estou com um nó na cabeça. Sou professora e estou rodeada de miúdos. Não sei mesmo o que fazer. A minha obstetra, apresenta-me os factos da Direcção Geral de Saúde, a minha ex-médica de família vai-se vacinar, mas a minha actual médica de família recusa-se. Caramba, se o próprio pessoal de saúde se recusa??!!! O que se deve pensar? Uma amiga que é farmacêutica, é apologista da vacinação, mesmo durante a gravidez...»
Costuma-se dizer que da discussão se faz a luz. E isso está certo. São necessárias opiniões distintas para que se possa aclarar um assunto. Mas, observar tamanha diversidade de concepções entre profissionais de saúde e num assunto tão melindroso como este, é um acto bárbaro.
Por um lado, a Direcção Geral da Saúde assume que «a vacinação tem por objectivos a protecção dos cidadãos mais vulneráveis, de modo a reduzir a morbilidade e a mortalidade, assegurar a continuidade dos serviços fundamentais e, ainda, reduzir a transmissão e a velocidade de expansão da doença». Por outro lado, alguns profissionais de saúde contrariam a utilidade desta vacina por não estar provada a sua conveniência e apuradas as suas consequências.
Esmiucemos a questão. Se o Estado me pedir para me jogar para um poço, obviamente, não o farei. Todavia, e mesmo fazendo o esforço de acreditar que muitas vezes existem interesses económicos em sectores tão importantes como o da saúde, quem sou eu para questionar as indicações de quem tutela a saúde, seja a nível nacional, europeu ou mundial? Quererão estas pessoas ver-me morto? Serão capazes de estar enviar milhares de pessoas ávidas desta vacina para o desconhecido? Quero acreditar que não.
Por isso, para ficar esclarecido, também tenho procurado uma prova irrefutável de que não vale a pena vacinar-me entre aqueles que dizem que não tomam a vacina, mas que estão ligados à área da saúde. Não encontro. Apenas leio e ouço respostas firmes mas com justificações muito vagas e sem suporte científico.
Eu quero acreditar que as pessoas que não querem tomar a vacina, e cuja vontade temos de respeitar, pensam ter razão e por isso sentem necessidade de avisar os outros. Mas, não consigo aceitar é que, sem provas concretas, andem a criar um clima de alarme social que apenas ameaça a saúde geral e nos confunde a todos.
Assim sendo, e porque já fomos longe demais, que se apurem os factos com rigor, porque se assim não for, numa radicalidade meramente literária, ou se manda “prender” quem nos está a expedir pretensamente para a morte, ou se manda “prender” todos aqueles que nos andam a desassossegar o espírito, sem qualquer motivo.
Uma coisa parece-me óbvia. Ambos os lados não podem ter razão ao mesmo tempo.

Publicado no Jornal do Algarve, edição de 26 de Novembro de 2009
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