quinta-feira, 17 de julho de 2008

LÍDER ALGARVIO: PROCURA-SE

O texto até poderia começar em forma de anúncio. Seria mais directo. Logo, aquilo que me ocorreu escrever foi: procura-se homem ou mulher, independentemente da sua idade, crença ou filiação partidária, com espírito de liderança, com paixão pelo Algarve e interesse sobre os seus problemas, astuto(a), bom (boa) negociador(a) com o poder central e que queira liderar, politicamente, esta região. Apresentem-se pois os pretendentes.
Hoje querem voltar a falar de regionalização. E quando de se fala deste tema, fala-se de Algarve, o que concordo, mesmo que confesse que nunca fui muito entusiasta desta filosofia política, ora porque nunca a entendi na forma como a explicaram ou pelos modelos administrativos errados que foram propostos, com excepção do nosso, há dez anos atrás.
Mesmo assim, sem querer cair numa contradição pessoal, e ainda que me sinta perdido no conceito e nas vontades expressas, se a regionalização for a consequência final de um processo urgente de uma efectiva descentralização, se tiver regras concretas e precisas, se puder transportar uma região como é a nossa, por vezes com um profundo défice de auto estima, com algumas lacunas económicas importantes e assente numa base turística essencial mas instável em termos mundiais, no cômputo geral, se o novo rumo seguir este caminho, então teremos sucesso.
Até lá, resta juntar todo este rendilhado de pessoas, com boa vontade, não duvido, trabalhadores incansáveis nos seus concelhos, sou testemunha, mas muito aquém de uma verdadeira força regional que seria a constatação ideal.
Continuamos a ser, como já o escrevi muitas vezes, habitantes de dezasseis quintas, onde os seus proprietários, leia-se autarcas, não têm uma visão de conjunto, sempre preocupados com o seu espaço, com os prováveis ganhos que disputam à migalha, mas sem perceberem que não têm voz onde é preciso porque são ignorados. Resta-lhes o papel de anfitriões quando cá vem alguém do governo, na ânsia de que mais uma migalha possa ser oferecida. É triste.
Onde é que andará esse ou essa líder? Quem será aquele ou aquela que, mesmo sendo polémica, que não agrade a todos ou seja olhada com desconfiança, saberá interpretar o sonho de uma região forte economicamente, assente numa base social feita de milhares de pessoas que trabalham e que querem que esse trabalho seja respeitado para que possam ter voz em Lisboa?
Ando à procura, portanto. E, tal como eu, sei que outros também andarão. Certamente, muitos dos algarvios que se interessam, que militam no tecido associativo, tenham acção política ou não, que participem nos diversos grupos de reflexão que por aí existem ou sejam cidadãos perfeitamente anónimos, mas que querem mudar algo no Algarve, não deixarão que continuemos a interiorizar esta ambição frustrada.

Publicada no Jornal do Algarve, página 26, edição de 17 de Julho de 2008

sexta-feira, 11 de julho de 2008

O ASSOCIATIVISMO

O associativismo está doente. Todos o sabemos. Todavia, poucos são aqueles que tentam remar contra uma maré que é conhecida mas ignorada. É este o panorama actual.
Fruto de um conjunto de vicissitudes que enfermaram um todo, espelho injusto de um conjunto de actos cegos e impróprios, o associativismo ficou conotado, injustamente, afirme-se sem complexos, com alguns comportamentos desviantes. A esses, como tudo na gestão da informação sensacionalista, foram dadas primeiras páginas, centenas de destaques e milhares de comentários, enquanto que o trabalho de formiga de milhares de “voluntários” do associativismo nem sequer teve direito a uma linha.
Isto deu origem à má fama, ao diz que disse e ao mau juízo. Que fique claro pois. Nem todos aqueles que dão gratuitamente as horas do seu tempo às associações onde militam são ladrões ou mal feitores. Bem longe disso. E, certamente, não são alguns casos censuráveis que mancharão todo um esforço de construir uma sociedade mais plural e mais diversificada, seja na cultura, no desporto ou nos tempos livres.
Eu sou defensor de um novo enquadramento legal para o associativismo, alicerçado num conjunto de novas medidas de apoio e fomento à sua acção. É importante que sejam dados passos importantes nesse sentido, para que se ultrapassem um conjunto de obstáculos que atrapalham e dificultam o seu dia a dia.
É necessário chamar mais pessoas para o associativismo. Mais do que isso. É importante que lhes possamos dar condições para que o vivam de uma forma completa e capaz de responder às missões que têm.
Hoje, a sociedade moderna, precisamente e ironicamente a mesma parte da que desdenha o associativismo porque não o conhece ou não quer conhecer, é aquela que mais necessita das suas virtudes e de tudo o que pode fazer para enriquecer as experiências pessoais de cada um. Esse complemento é fundamental enquanto garante de um passado cheio de referências que não podemos deixar morrer ao abandono.
Estas e outras questões, debaixo do tema que escolhi para escrever estas linhas, preocupam-me bastante. Temos, assim, dois caminhos para percorrer.
O primeiro, leva-nos para a continuação de uma política do falar mal e de não querer ajudar a reerguer o associativismo. É o mais fácil, claro. O segundo caminho leva-nos por uma estrada de esforço individual, garantindo lá no clube da terra, na associação com a qual nos identificamos ou na defesa da causa pela qual nutrimos afeição, o nosso contributo.
Devo uma palavra final a muitas pessoas, com nomes diferentes, mas com a mesma característica, ou seja, a tenacidade que têm demonstrado em aguentar muitas associações, na sua maioria, de uma forma absolutamente heróica. Curvo-me perante esses exemplos, infelizmente, muitas vezes misturados na lama de uma forma infame.

Publicada no Jornal Região Sul, edição de 9-7-2008
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